Esu
Mensageiro dos Orixás, ele é o primogênito do universo no mito da gênesis dos elementos cósmicos. É o resultado da integração água e terra, masculino e feminino, sendo o terceiro elemento. Cultuado entre os Orixás, apenas por seu intermédio é possivel adorar as Yabás-Mi (as feiticeiras). Traçar e abrir caminhos é uma das suas principais atividades, pois ele circula livremente entre todos os elementos do sistema. É o princípio da comunicação. Esta fortemente representado no Opon-Ifá (tábua adivinhatória de Ifá - Deus da Adivinhação) pelos triângulos e losângulos. O sistema oracular funciona graças a ele. Está profundamente associado ao segredo da transformação de materiais em indivíduos diferenciados. Exú é o alter ego de todos os indivíduos. É o princípio dinâmico da expansão (evolução), agente de ligação, princípio do nascimento de seres humanos, princípio da reparação (causa/efeito). Exerce o papel de propulsor do desenvolvimento, de mobilizador, de fazer crescer, de ligar, de unir o que está separado, de transformar, de comunicar e de carregar. Todos os Orixás necessitam de suas forças, pois ele está ligado à evolução e ao destino de cada um.
Exú é o primeiro que se serve e se cultua, é o Senhor, o decano de todos os elementos.
Como muitos não conhecem profundamente a religião iouobá, tiram conclusões apressadas e erradas quando se referem a Exú, tornando-o uma entidade voltada para o mal e apresenta nos círculos menos evoluídos como portadores de defeitos físicos, confundido com os Kiumbas (entidades defeituosas).
Embora conhecido como um escravo, a grande realidade é que Exú também é um Orixá, representando os santos como mensageiro, verdadeiro secretário, o cobrador da lei causa/efeito. Não se pode ir a um Orixá sem antes tratar de Exú. Embora seus toques sejam rápidos (ex. Bravum Adarrum), ele dança com satisfação qualquer toque aos Orixás quando ordenado. Exceto para Oxálufan, com qual ele brigou por desejar seu trono.
Exú é o detentor de axé e quem, junto com Olodumaré, criou o universo, ambos têm o mesmo poder.
Alguns veneram-no como a um "Orixá" (há controvérsias semânticas), considerando-o irmão de Ogum e Oxossi, filho de Iemonja. Seu ritual específico é o Ipade e a sua oferenda o Ebo. È costume dizer-se que existem 16 clãs desse Ara Orun Imole, e várias qualidades, como: Ajikonoro (o compadre), Legba (de Omulu) Lalu (de Osala, Iemoja e Osum), Bara ou do Corpo (o velho), Bori (de Sango), Afefe (de Iansan), Ogum ou de Ferro (de Ogum), Alafia (da satisfação), Alaketu, Lon Bii, Elekenae, Ajalu, Tiriri, Vira (é feminino), Tamentau, Rum Danto, Aluvaia, Paraná, Marambo, Bombom-Ngera, Sinza Muzila, Lonan, Gikete e Jubiabá. Conta a tradição: Olorum deu a Oxalá o domínio da Ordem e a Ifá a comunicação entre os Homens e os Orixás, através dos Odus Ifás transportados e vigiados por Exú, ligando assim os dois extremos das variações espirituais.
Lendas
Olodumare (olorúm) é o principio de tudo é quem está entre o céu e a terra".
É o dono da criação. Com seus mistérios e seus elementos: aguá e terra e barro que somados formam o homem. E o homem somado a consciência formam os orixás. Exú é o principio de tudo pois foi gerado da terra e aguá (barro) o ar e as águas moveram-se conjuntamente e uma parte deles mesmo transformou-se em lama.
Dessa lama originou-se uma bolha ou montículo, a primeira matéria dotada de forma, um rochedo avermelhado e lamacento olôrun admirou esta forma e soprou sobre o montículo, insuflou-lhe seu hálito e lhe deu vida.
Esta forma, a primeira dotada de existência individual, um rochedo de laterita era "exú yangi !!!"
Exú, sabedor de que uma rainha fora abandonada pelo seu rei (dormindo assim em aposentos separados). Procurou-a, entregou a ela uma faca e disse que se ela desejasse ter ele de volta deveria cortar alguns fios da sua barba ao anoitecer quando o rei dormisse. Em seguida, foi a casa do príncipe herdeiro do trono situada nos arredores do palácio e disse ao príncipe que o rei desejava vê-lo ao anoitecer com seu exército. Em seguida, foi até o rei e disse: a rainha magoada vai tentar matá-lo a noite finja que está dormindo para não morrer. E a noite veio. O rei deitou-se fingiu dormir e viu depois, a rainha aproximar uma faca de sua garganta. Ela queria apenas cortar um fio da barba do rei, mas ele julgou que seria assassinado. O rei desarmou-a e ambos lutaram, fazendo grande algazarra. O príncipe que chegava com seus guerreiros, escutou gritos nos aposentos do rei e correu para lá. O príncipe entrou nos aposentos e viu o rei com a faca na mão e pensou que ele queria matar a rainha e empunhou sua espada. O rei vendo o príncipe entrar no palácio armado a noite pensou que o príncipe queria matá-lo e gritou por seus guardas pessoais. Houve uma grande luta seguida de um massacre generalizado.
Lendas referentes a Exú / Bara
Uma mulher que esqueceu de alimentar exú se encontra no mercado vendendo os seus produtos. Exú então põe fogo na sua casa, ela corre prá lá, abandonando seu negócio. A mulher chega tarde, a casa está queimada e, durante esse tempo, um ladrão levou suas mercadorias. Nada disso teria acontecido se tivesse feito a exú as oferendas e os sacrifícios usuais em primeiro lugar.
Lendas referentes a Exú / Bara
Um dia, oxalá cansado de ser zombado e trapaceado por exú, pois oxalá era muito orgulhoso e geralmente não agradava exú por ser um orixá mais velho. Decidiu combater exú para ver quem era o orixá mais forte e respeitado. E foi aí que oxalá provou a sua superioridade, pois durante o combate, oxalá apoderou-se da cabaça de bará a qual continha o seu poder mágico, transformando-o assim em seu servo.
Foi desde então que oxalá permitiu que exú recebesse todas as oferendas e sacrifícios em primeiro lugar...
Òrìsà Princípio de Movimento e Interligação. Certa vez, dois amigos de infância, que jamais discutiam, esqueceram-se de fazer-lhe as oferendas devidas para Esù. Foram para o campo trabalhar, cada um na sua roça. As terras eram vizinhas, separadas apenas por um estreito canteiro. Esù, zangado pela negligência dos dois amigos, decidiu preparar-lhes um golpe à sua maneira: Ele colocou sobre a cabeça um boné pontudo que era branco do lado direito e vermelho do lado esquerdo. Depois, seguiu o canteiro, chegando à altura dos dois trabalhadores amigos e, muito educadamente, cumprimentou-os:
"Bom trabalho, meus amigos !"
Estes, gentilmente, responderam-lhe:
"Bom passeio, nobre estrangeiro !"
Assim que Esù afastou-se, o homem que trabalhava no campo da direita, falou para o seu companheiro:
"Quem pode ser este personagem de boné branco ?"
"Seu chapeu era vermelho", respondeu o homem do campo a esquerda.
"Não, ele era branco, de um branco de alabastro, o mais belo branco que existe !"
'Ele era vermelho, de um vermelho escarlate, de fulgor insustentável !"
"Ele era branco, tratar-me de mentiroso ?" "Ele era vermelho, ou pensas que sou cego ? "
Cada um dos amigos tinha razão e ambos estavam furioso da desconfiança do outro. Irritados, eles agarraram-se e começaram e bater-se até matarem-se a golpes de enxada.
Esù estava vingado ! Isto não teria acontecido se as oferendas de Esù não tivessem sido negligenciadas. Pois
Esù pode ser o mais benevolente dos Òrìsàs se é tratado com consideração e generosidade. Há uma maneira hábil de obter um favor de Esù. É preperar-lhe um golpe mais astuto que aqueles que ele mesmo prepara.
Conta-se que Aluman estava desesperado com uma grande seca. Seus campos estavam secos e a chuva não caia. As rãs choravam de tanta sede e os rios estavam cobertos de folhas mortas, caídas das árvores. Nenhum Òrìsà invocado escutou suas queixas e gemidos. Aluman decidiu, então, oferecer a Esù grandes pedaços de carne de bode. Esù comeu com apetite desta excelente oferenda. Só que Aluman havia temperado a carne com um molho muito apimentado. Esù teve sede. Uma sede tão grande que toda a água de todas as jarras que ele tinha em casa, e que tinham, em suas casas, os vizinhos, não foi suficiente para matar sua sede.
Esù foi a torneira da chuva e abriu-a sem pena. A chuva caiu. Ela caiu de dia, ela caiu de noite. Ela caiu no dia seguinte e no dia depois, sem parar. Os campos de Aluman tornaram-se verdes. Todos os vizinhos de Aluman cantaram sua glória: "Joro, jara, joro Aluman; Joro, jara, joro Aluman."
E as rãsinhas gargarejavam e coaxavam, e o rio corria velozmente para não transbordar. Aluman, reconhecido, ofereceu a Esù carne de bode com o tempero no ponto certa da pimenta. Havia chovido bastante. Mas, seria desastroso !!! Pois, em todas as coisas, o demais é inimigo do bom.
Um dia Orunmilá foi procurar Osalá em seu palácio. Orunmilá e sua mulher queriam ter um filho. Chegando ao palácio de Osalá, Orunmilá encontrou Esú Yangui sentado à esquerda da entrada principal. Já dentro do palácio, e diante do velho rei, Orunmilá fez seu apelo, escutando de Osalá uma resposta negativa. O velho rei afirmou-lhe que ainda não era tempo da chegada de um filho. Orunmilá, insatisfeito e ao mesmo tempo curioso, perguntou à Osalá quem era aquele menino sentado à porta do palácio e pediu ao rei, se poderia levá-lo como filho. Osalá garantiu-lhe que não era o filho ideal de se ter, ao que Orunmilá insistiu tanto em seu pedido que obteve a graça de Osalá.
Tempos depois nasceu Esú, filho de Orunmilá. Para espanto dos pais, nasceu falando e comendo tudo que estava a sua volta, acabando por devorar a própria mãe. Esú aproximou-se de Orunmilá para também comê-lo, entretanto o adivinho tinha consigo uma espada e enfurecido partiu para matar o filho. Esú fugiu, sendo perseguido por Orunmilá, que a cada espaço do céu alcançava-o, cortando Esú em duzentos e um pedaços. A cada encontro, o ducentésimo primeiro pedaço transformava-se novamente em Esú. Assim terminaram por atingir o último espaço sagrado e, como não tinham mais saída, resolveram entrar num acordo. Esú devolveu tudo o que havia comido, inclusive sua mãe, em troca seria sempre saudado primeiro em todos os rituais.
Esu não possuia riquezas, não possuia terras, não possuia rios, não tinha nenhuma profissão, nem artes e nem missão. Esu vagabundeava pelo mundo sem paradeiro. Então um dia, Esu passou a ir à casa de Osalá. Ia à casa de Osalá todos os dias. Na casa de Osalá, Esu se distraía, vendo o velho fabricando os seres humanos. Muitos e muitos também vinham visitar Oxalá, mas ali ficavam pouco, quatro dias, sete dias, e nada aprendiam. Traziam oferendas, viam o velho orixá, apreciavam sua obra e partiam.
Esu foi o único que ficou na casa de Oxalá ele permaneceu por lá durante dezesseis anos. Esu prestava muita atenção na modelagem e aprendeu como Oxalá modelava as mãos, os pés, a boca, os olhos, o pênis dos homens, as mãos, os pés, a boca, os olhos, e a vagina das mulheres. Durante dezesseis anos ali ficou auxiliando o velho Orixá.
Esu observava, não perguntava nada Esu apenas observava e prestava muito atenção e com o passar do tempo aprendeu tudo com o velho. Um dia Osalá disse a Esu para ir postar-se na encruzilhada por onde passavam os que vinham à sua casa. Para ficar ali e não deixar passar quem não trouxesse uma oferenda a Osalá.
Cada vez mais havia mais humanos para Osalá fazer. Osalá não queria perder tempo recolhendo os presentes que todos lhe ofereciam. Osalá nem tinha tempo para as visitas. Esu que tinha aprendido tudo, agora podia ajudar Osalá. Era ele quem recebia as oferendas e as entregava a Osalá. Esu executava bem o seu trabalho e Oxalá decidiu recompensá-lo. Assim, quem viesse à casa de Osalá teria que pagar também alguma coisa a Esu.Esu mantinha-se sempre a postos guardando a casa de Osalá. Armado de um ogó, poderoso porrete, afastava os indesejáveis e punia quem tentasse burlar sua vigilância. Esu trabalhava demais e fez sua casa ali na encruzilhada. Ganhou uma rendosa profissão, ganhou seu lugar, e sua casa. Esu ficou rico e poderoso. E ninguém pode mais passar pela encruzilhada sem fazer uma paga a Esu.
Toda vez que Orunmilá vinha do Orum para ver as coisas do Aiê, era interrogado pelos orixás, humanos e animais, ainda não fora determinado qual o lugar para cada criatura e Orunmilá ocupou-se dessa tarefa.
Exu propôs que todos os problemas fossem resolvidos ordenadamente, ele sugeriu a Orunmilá que a todo orixá, humano e criatura da floresta fosse apresentada uma questão simples para a qual eles deveriam dar resposta direta, anatureza da resposta individual de cada um determinaria seu destino e seu modo de viver, Orunmilá aceitou a sugestão de Exu. E assim, de acordo com as respostas que as criaturas davam, elas recebiam um modo de vida de Orunmilá, uma missão, enquanto isso acontecia, Exu, travesso que era, pensava em como poderia confundir Orunmilá.
Orunmilá perguntou a um homem: "Escolhes viver dentro ou fora?". "Dentro", o homem respondeu, e Orunmilá decretou que doravante todos os humanos viveriam em casas.
De repente, Orunmilá se dirigiu a Exu: "E tu, Exu? Dentro ou fora?". Exu levou um susto ao ser chamado repentinamente, ocupado que estava em pensar sobre como passar a perna em Orunmilá, e rápido respondeu: "Ora! Fora, é claro", mas logo se corrigiu: "Não, pelo contrário, dentro", Orunmilá entendeu que Exu estava querendo criar confusão, falou pois que agiria conforme a primeira resposta de Exu, disse: "Doravante vais viver fora e não dentro de casa".
E assim tem sido desde então, Exu vive a céu aberto, na passagem, ou na trilha, ou nos campos, diferentemente das imagens dos outros orixás, que são mantidas dentro das casas e dos templos, toda vez que os humanos fazem uma imagem de Exu ela é mantida fora.
Ele deixaria a cidade e pediu a elas que vendessem sua cabra por vinte búzios. Propôs que ficassem com a metade do lucro obtido. Iemanjá, Oiá e Oxum concordaram e Exu partiu.
A cabra foi vendida por vinte búzios. Iemanjá, Oiá e Oxum puseram os dez búzios de Exu a parte e começaram a dividir os dez búzios que lhe cabiam. Iemanjá contou os búzios. Haviam três búzios para cada uma delas, mas sobraria um. Não era possível dividir os dez em três partes iguais. Da mesma forma Oiá e Oxum tentaram e não conseguiram dividir os búzios por igual. Aí as três começaram a discutir sobre quem ficaria com a maior parte.
Iemanjá disse: “É costume que os mais velhos fiquem com a maior porção. Portanto, eu pegarei um búzio a mais”.
Oxum rejeitou a proposta de Iemanjá, afirmando que o costume era que os mais novos ficassem com a maior porção, que por isso lhe cabia.
Oyá intercedeu, dizendo que , em caso de contenda semelhante, a maior parte caberia à do meio.
As três não conseguiam resolver a discussão. Então elas chamaram um homem do mercado para dividir os búzios eqüitativamente entre elas. Ele pegou os búzios e colocou em três montes iguais. E sugeriu que o décimo búzio fosse dado a mais velha. Mas Oiá e Oxum, que eram a segunda mais velha e a mais nova, rejeitaram o conselho. Elas se recusaram a dar a Iemanjá a maior parte.
Pediram a outra pessoa q eu dividisse eqüitativamente os búzios. Ele os contou, mas não pôde dividi-los por igual. Propôs que a parte maior fosse dado à mais nova. Iemanjá e Oiá.
Ainda um outro homem foi solicitado a fazer a divisão. Ele contou os búzios, fez três montes de três e pôs o búzio a mais de lado. Ele afirmou que, neste caso, o búzio extra deveria ser dado àquela que não é nem a mais velha, nem a mais nova. O búzio devia ser dado a Oiá. Mas Iemanjá e Oxum rejeitaram seu conselho. Elas se recusaram a dar o búzio extra a Oiá. Não havia meio de resolver a divisão.
Exu voltou ao mercado para ver como estava a discussão. Ele disse: “Onde está minha parte?”.
Elas deram a ele dez búzios e pediram para dividir os dez búzios delas de modo eqüitativo. Exu deu três a Iemanjá, três a Oiá e tre a Oxum. O décimo búzio ele segurou. Colocou-o num buraco no chão e cobriu com terra. Exu disse que o búzio extra era para os antepassados, conforme o costume que se seguia no Orun.
Toda vez que alguém recebe algo de bom, deve-se lembrar dos antepassados. Dá-se uma parte das colheitas, dos banquetes e dos sacrifícios aos Orixás, aos antepassados. Assim também com o dinheiro. Este é o jeito como é feito no Céu. Assim também na terra deve ser.
Quando qualquer coisa vem para alguém, deve-se dividi-la com os antepassados. “Lembrai que não deve haver disputa pelos búzios.”
Iemanjá, Oiá e oxum reconheceram que Exu estava certo. E concordaram em aceitar três búzios cada.
Todos os que souberam do ocorrido no mercado de Oió passaram a ser mais cuidadosos com relação aos antepassados, a eles destinando sempre uma parte importante do que ganham com os frutos do trabalho e com os presentes da fortuna.
Em épocas remotas os deuses passaram fome. Às vezes, por longos períodos, eles não recebiam bastante comida de seus filhos que viviam na Terra.
Os deuses cada vez mais se indispunham uns com os outros e lutavam entre si guerras assombrosas. Os descendentes dos deuses não pensavam mais neles e os deuses se perguntavam o que poderiam fazer. Como ser novamente alimentados pelos homens ? Os homens não faziam mais oferendas e os deuses tinham fome. Sem a proteção dos deuses, a desgraça tinha se abatido sobre a Terra e os homens viviam doentes, pobres, infelizes.
Um dia Exu pegou a estrada e foi em busca de solução. Exu foi até Iemanjá em busca de algo que pudesse recuperar a boa vontade dos homens. Iemanjá lhe disse: "Nada conseguirás. Xapanã já tentou afligir os homens com doenças, mas eles não vieram lhe oferecer sacrifícios".
Iemanjá disse: "Exu matará todos os homens, mas eles não lhe darão o que comer. Xangô já lançou muitos raios e já matou muitos homens, mas eles nem se preocupam com ele. Então é melhor que procures solução em outra direção. Os homens não tem medo de morrer. Em vez de ameaçá-los com a morte, mostra a eles alguma coisa que seja tão boa que eles sintam vontade de tê-la. E que, para tanto, desejem continuar vivos".
Exu retornou o seu caminho e foi procurar Orungã.
Orungã lhe disse: "Eu sei por que vieste. Os dezesseis deuses tem fome. É preciso dar aos homens alguma coisa de que eles gostem, alguma coisa que os satisfaça.. Eu conheço algo que pode fazer isso. É uma grande coisa que é feita com dezesseis caroços de dendê. Arranja os cocos da palmeira e entenda seu significado. Assim poderás conquistar os homens".
Exu foi ao local onde havia palmeiras e conseguiu ganhar dos macacos dezesseis cocos. Exu pensou e pensou, mas não atinava no que fazer com eles. Os macacos então lhe disseram: "Exu, não sabes o que fazer com os dezesseis cocos de palmeira? Vai andando pelo mundo e em cada lugar pergunta o que significam esses cocos de palmeira. Deves ir a dezesseis lugares para saber o que significam esses cocos de palmeira. Em cada um desses lugares recolheras dezesseis odus. Recolherás dezesseis histórias, dezesseis oráculos.
Cada história tem a sua sabedorias, conselhos que podem ajudar os homens. Vai juntando os odus e ao final de um ano terás aprendido o suficiente. Aprenderás dezesseis vezes dezesseis odus. Então volta para onde moram os deuses. Ensina aos homens o que terás aprendido e os homens irão cuidar de Exu de novo".
Cada história tem a sua sabedorias, conselhos que podem ajudar os homens. Vai juntando os odus e ao final de um ano terás aprendido o suficiente. Aprenderás dezesseis vezes dezesseis odus. Então volta para onde moram os deuses. Ensina aos homens o que terás aprendido e os homens irão cuidar de Exu de novo".
Exu fez o que lhe foi dito e retornou ao Orun, o Céu dos Orixás. Exu mostrou aos deuses os odus que havia aprendido e os deuses disseram: "Isso é muito bom".
Os deuses, então, ensinaram o novo saber aos seus descendentes, os homens. Os homens então puderam saber todos os dias os desígnios dos deuses e os acontecimentos do porvir. Quando jogavam os dezesseis cocos de dendê e interpretavam o odu que eles indicavam, sabiam da grande quantidade de mal que havia no futuro. Eles aprenderam a fazer sacrifícios aos Orixás para afastar os males que os ameaçavam. Eles recomeçavam a sacrificar animais e a cozinhar suas carnes para os deuses. Os Orixás estavam satisfeitos e felizes. Foi assim que Exu trouxe aos homens o Ifá.
Logun Edé
"Erinlè teria tido, com Oxum Ipondá, um filho chamado Lógunède (Logunedé), cujo culto se faz ainda, mas raramente, em Ilexá, onde parece estar em vias de extinção."
Do livro "Orixás - Pierre Fatumbi Verger - Editora Corrupio"
"No Brasil, tanto na Bahia como no Rio de Janeiro, Logunedé tem, entretanto, numerosos adeptos. Esse deus tem por particularidade viver seis meses do ano sobre a terra, comendo caça, e os outros seis meses, sob as águas de um rio, comendo peixe. Esse deus, segundo se conta na África, tem aversão por roupas vermelhas ou marrons. Nenhum dos seus adeptos ousaria utilizar essas cores no seu vestuário. O azul-turquesa entretanto parece ter sua aprovação. É sincretizado na Bahia com São Expedito."
"PAI CIDO DE ÒSUN EYIN(CANDOMBLÉ - A PANELA DO SEGREDO)"
Hoje, na Nigéria, a mais rica cidade chama-se Ilesa, e é a cidade de Logun Ede, que para muitos é metade homem e metade mulher, o que não é verdade. Logun Ede é um santo único, um Orixá rico que herdou tanto a beleza e agilidade do pai quanto a beleza e riqueza da mãe. Em Ilesa, uma das cidades mais prósperas da África, encontra-se o palácio de Logun Ede.
Conta a lenda que Osun teve uma grande paixão na sua vida: Osossi, mais na época era casada com Ògún e não podia ter nada com Osossi. Numa das saídas de Ògun para guerrear, Osun encontrou Osossi e dele ela engravidou. Nove meses depois, quando a criança estava para nascer, Ògún mandou recado que estava regressando. Osun não podia mostrar a ela a criança. Ela deu a luz a um menino e o pôs em cima de um lírio e ali o deixou e foi embora. Iansã passando viu aquela criança e sabia que era de Osun, pegou e criou Logun Ede. Iansã o ensinou a caçar e pescar. Logun Ede viveu com Iansã durante muito tempo.
Certo dia Logun Ede saiu para caçar. Quando estava no topo de uma cachoeira, olhou para baixo e viu uma linda mulher sentada nas pedras, tomando banho e se penteando. Ele ficou fascinado pela beleza desta mulher. Aí ele desceu e ficou olhando-a escondido. Osun com seu abebe (espelhinho) viu que havia um homem a observando. Virou o abebe para ele. Neste momento Logun Ede se encantou e caiu nas águas em forma de cavalo marinho. Iansã quando soube, correu atrás de Osun e disse a ela que aquele menino que ela havia encantado era seu filho: Logun Ede, que um dia ela havia deixado em cima de um lírio. Osun desfez o encantamento e disse que apartir daquele dia Logun Ede viveria seis meses na terra como o pai, comendo da caça e seis meses viveria como a mãe, comendo do peixe.
Chegando em terra cantou:
Alaketo-ê
Ala Ni Mala
Ala Ni Mala
okê
Este coro foi cantando em saudação às águas e pedia permissão à dona do palácio para sua entrada. Abriram-se os portões e Logun Ede entrou e no meio das mulheres Osun reconheceu seu filho. Disse que apartir daquele dia Logun Ede usaria saia, que lhe daria o direito de reinar ao seu lado.
Logun-Edé era filho de Osun e Osóssi. Sem poder viver no palácio de Osun, foi criado por Oiá na beira do rio. Osóssi seu pai, era demasiado rude e não conseguia conviver com o filho, sumindo por longo tempo em suas caçadas. Logun, afeiçoado pela mãe, vez por outra ia ao palácio de Sango, onde Osun vivia. Logun vestia-se de mulher pois Sango era ciumento e não permitia a entrada de homens em sua morada. Assim, Logun passava dias e dias vestido de mulher mas na companhia de sua mãe e das outras rainhas.
Um dia houve uma grande festa no orun à qual todos os orisás compareceram com seus melhores trajes. Logun-Edé, que vivia na beira do rio a caçar e pescar não possuía trajes belos. Foi então que vestiu-se com as roupas que Osun lhe dera para disfarçar-se e com elas foi à grande recepção. Ao chegar, todos ficaram admirados com a beleza de Logun-Edé, e perguntavam: "Quem é esta formosura tão parecida com Osun?". Ifá, muito curioso, chegou perto do rapaz e levantou o filá que cobria seu rosto. Logun-Edé ficou desesperado e saiu da festa correndo, com medo que todos descobrissem sua farsa. Entrou na floresta correndo e foi avistado por Osóssi que o seguiu, sem reconhecê-lo, encantado com sua beleza. Logun-Edé, de tanto correr fugindo à perseguição do caçador, caiu cansado. Osóssi então atirou-se sobre ele e possuiu-o ali mesmo.
Estava Òsóssì o rei da caça a caminhar por um lindo bosque em companhia de sua amada esposa Òsún, dona da beleza da riqueza e portadora dos segredos da maternidade. Quando de seu passeio, foi avistado por Òsún um lindo menino que estava a beira do caminho a chorar, encontrando-se perdido, Òsún de pronto agrado, acolheu e amparou o garoto, onde surgiu nesse exato momento uma grande identificação, entre ele, Òsún e Òsóssì.
Durante muitos anos Òsún e Òsóssì, cuidaram e protegeram-lhe, sendo que, Òsún procurou durante todo esse tempo a mãe do menino, porém sem sucesso, resolveu te-lo como próprio filho. O tempo foi passando e Òsóssì, vestiu o menino com roupas de caça e ornamentou-o com pele de animais, proveniente de suas caçadas. Ensinou a arte da caça, de como manejar e empunhar o arco e a flecha, ensinou os princípios da confraternidade para com as pessoas e o dom do plantio e da colheita, ensinou a ser audaz e a ter paciência, a arte e a leveza, a astúcia e a destreza, provenientes de um verdadeiro caçador. Òsún por sua vez, ensinou ao garoto o dom da beleza, o dom da elegância e da vaidade, ensinou a arte da feitiçaria, o poder da sedução, a viver e sobreviver sobre o mundo das águas doces, ensinou seus segredos e mistérios.
Foi batizado por sua mãe e por seu pai de Lógún Edé, o príncipe das matas e o caçador sobre as águas. Viveu durante anos sobre a proteção de pai e mãe, tornando-se um só, aprendendo a ser homem, justo e bondoso, herdando a riqueza de Òsún e a fartura de Òsóssì, adquirindo princípios de um e princípios de outro, tornando-se herdeiro até nos dias de hoje de tudo que seu pai Òsóssì carrega e sua mãe Òsún leva.
Um dia Oxum Ipondá conheceu o caçador Erinlé e por ele se apaixonou perdidamente. Mas Erinlé não quis saber de Oxum. Oxum não desistiu e procurou um babalaô. Ele disse que Erinlé só se sintia atraído pelas mulheres da floresta, nunca pelas do rio. Oxum pagou o babalaô e arquitetou um plano: Embebeu seu corpo em mel e rolou pelo chão da mata.
Agora sim, disfarçada de mulher da mata, procurou de novo seu amor.
Erinlé se apaixonou por ela no momento em que a viu. Esquecendo-se das palavras do adivinho, Ipondá convidou Erinlé para um banho no rio. Mas as águas lavaram o mel de seu corpo e as folhas do disfarce se desprenderam. Erinlé percebeu imediatamente como tinha sido enganado e abandonou Oxum para sempre.
Foi-se embora sem olhar para trás. Oxum estava grávida; deu à luz a Logun Edé.
Logun Edé é a metade Oxum, a metade rio, E é metade Erinlé, a metade mato. Suas metades nunca podem se encontrar.
Ele habita num tempo o rio e noutro o mato. Com o Ofá, arco e flecha que herdou do pai, ele caça. No abebé, espelho que recebeu da mãe, ele se admira.
PRANDI, Reginaldo. Mitologia dos orixás. São Paulo, Companhia das Letras, 2001. 624 páginas
____________. Esu. Lenda dos Orixás. Disponível em: http://www.lendas.orixas.nom.br. Acesso em: 15/06/2012.
____________. Logun Ede. Lenda dos Orixás. Disponível em: http://www.lendas.orixas.nom.br. Acesso em: 15/06/2012.
0 comentários:
Postar um comentário